segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A VITÓRIA DOS INDEPENDENTES




   
  O fenómeno destas eleições foi indiscutivelmente o das candidaturas independentes. Com efeito, o “partido” dos independentes foi o quarto mais votado, com treze Câmaras, mais do que dois partidos com assento parlamentar, o CDS e o BE.
   Um olhar mais atento impõe-se sobre estas candidaturas. Quantas delas são verdadeiramente independentes, ou seja, descontando as deserções partidárias, quantas ficam? Provavelmente nenhuma.
   Significa isto que os “independentes" não o são, de facto. Acontece que os candidatos que não foram escolhidos pelas estruturas partidárias viram-se forçados a desertar e a concorrer à margem dos partidos, dos seus partidos. Fosse outra, a escolha, e estes candidatos não teriam deixado os partidos.

   Que lições se podem tirar deste fenómeno?

   Que os partidos cometeram “erros de casting” ao escolher o candidato A em detrimento do candidato B. Ora, isso só é verificável após e não antes das eleições.
   Que as estruturas locais não “ouviram” os militantes ou as “forças vivas do concelho”.
   Que as escolhas das direcções nacionais dos partidos se sobrepuseram às escolhas locais, o que evidencia um “desconhecimento do terreno”, ou seja, a má escolha é atribuível à “falta de diálogo”.

   Ou, pura e simplesmente, que é preciso mudar a forma de fazer política neste país, e a começar desde logo pelo princípio, isto é, pela escolha dos candidatos.
   Advogamos a instituição de eleições primárias nos partidos. Assim:

1 - Qualquer pessoa, militante ou não, deve poder candidatar-se pelo partido cuja tábua de valores e princípios mais se identifica com a sua.
2 – Os diferentes candidatos apresentam os seus programas e a discussão é feita em torno destes, e não na contagem de espingardas junto dos militantes.
3 – Havendo um debate entre programas, emerge, em princípio, o melhor de entre eles, não necessariamente aquele que seria o preferido pelas estruturas locais ou nacionais. É esta a melhor forma de impedir a perpetuação de caciques.
4 – Os candidatos são escolhidos pelos eleitores, pelos votantes, e não por um reduzido número de militantes ou um ainda mais reduzido número de dirigentes.
5 – A escolha dos eleitores nas primárias aproximar-se-á da escolha nas eleições autárquicas. Será maior, a participação eleitoral, visto que os eleitores irão votar no "seu" candidato e não em alguém que lhes foi imposto.

   Se os partidos fossem inteligentes, se a escolha dos candidatos tivesse sido feita com recurso a eleições primárias, o PSD não teria perdido o Porto e Gaia, e o PS não teria perdido Matosinhos, por exemplo.

   Se os partidos forem inteligentes, mais tarde ou mais cedo acabarão por perceber que as primárias podem funcionar a favor, e não contra eles. Mas para isso, os partidos têm que deixar de ser um fim para passarem a ser apenas um meio de acesso ao poder. E esse salto ainda está por dar.  

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