quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Crise e Estado de Direito




   
  O Tribunal Constitucional chumbou pela terceira vez um diploma apresentado pela maioria. Trata-se da maior humilhação feita a um governo e uma maioria, sem precedentes na nossa democracia.
   Como é que um governo pode ser tão obtuso ao ponto de ver três leis importantes, dois orçamentos e uma lei essencial para a “reforma” do Estado, declaradas inconstitucionais? Até onde vão a sua cegueira ideológica e incompetência técnico-jurídica?
   Passos, ainda antes de ser poder, apresentou um projecto de revisão constitucional que era a negação da actual lei fundamental. Esse projecto foi liminarmente rejeitado por todos os outros partidos, desde logo o PS, sem o qual não é possível formar a maioria de 2/3 necessária à revisão. Pois bem, o patético primeiro ministro comporta-se como se o seu projecto de revisão tivesse sido aprovado e a Constituição fosse o que ele gostaria e não o que é. Tanta obstinação é estupidez.
   O Tribunal foi pressionado e ameaçado, e os juízes foram apodados de “primadonas” por decidirem em tempo de férias e com quorum reduzido, matérias tão importantes.
   Hoje, pela boca do seu presidente, o Tribunal respondeu serenamente que se limita a cumprir a lei orgânica que regula o seu funcionamento – aprovada na AR, não mero regulamento interno – e que tal não impede que as decisões tomadas em férias sejam menos válidas que outras proferidas quando está reunida a totalidade dos juízes. Ao contrário do governo, este órgão de soberania funciona regularmente.
   De resto, não é novidade que o TC profira acórdãos nestas circunstâncias; Foram já mais de cinquenta ao longo da sua história, e não há lembrança de que as decisões tomadas em tempo de férias tenham sido postas em causa por isso.

   O Tribunal Constitucional tem, ao longo dos anos, decidido com independência e imparcialidade as questões que lhe têm sido colocadas. Tem produzido jurisprudência de invulgar qualidade que deixa orgulhoso o direito português. O funcionamento regular do TC é um garante da democracia. Os cidadãos sabem que podem contar com ele. Nem a Constituição nem o Estado de Direito estão suspensos pela crise, ao contrário das pretensões da direita. Não vale tudo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

SWAPS


Não acham estranho que um governo que é reconhecidamente lerdo e incompetente, invariável servidor de interesses privados, negligente na defesa do interesse público, depois de estar dois anos sem fazer nada quanto a este assunto venha agora querer resolver esta coisa dos Swaps a grande velocidade?



Não acham estranho que os Swaps tenham levado à sucessiva demissão de Secretários de Estado contaminados com estes produtos (à excepção, claro está, da agora Ministra Albuquerque) em vez dos costumeiros "Os factos reportam-se a um período em que o senhor secretário não era membro do governo", "Não cometi nenhuma ilegalidade" e "Estou de consciência tranquila"? 

E o tal relatório? Encomendado a quem?

E a pressa em renegociar os contratos com os bancos?

E o banco que, ao renegociar os Swaps com o governo, ganha a gestão da privatização dos CTT?

Um dia a verdade será revelada em toda a sua sordidez sobre este assunto. 

O meu faro diz-me que cheira a podre à distância.