A troika a avaliar os meninos. De "Pink Floyd: The Wall".
Estão a decorrer as "avaliações" da Troika. A especulação sobre o resultado destes exames gira em torno de dois pontos:
a) Aprovará a Troika as medidas do governo e dará luz verde para mais uma tranche do empréstimo;
b) Será sensível aos argumentos do governo e flexibilizará as metas do défice para 2014.
Chamemos os bois pelos nomes e sejamos claros e cristalinos: As avaliações ou exames são uma farsa. É óbvio que as avaliações serão sempre positivas porque não está nem nunca esteve em causa fazer depender a atribuição dos empréstimos do resultado das "avaliações".
E porquê? Porque o objectivo do resgate é justamente emprestar dinheiro a Portugal para que este possa pagar aos credores. Não nos esqueçamos que quem foi resgatado foram os credores e não nós; por isso está fora de questão que os bancos tóxicos - FMI e BCE - se abstenham de emprestar o dinheiro que serve para pagar aos seus clientes, os credores, por causa de uma avaliação negativa, o que aliás, nunca aconteceu nem irá acontecer até esta tragédia chegar ao fim.
Assim, a encenação ou simulacro de negociações mais ou menos duras apenas serve para que as partes cumpram os seus respectivos papéis e façam o seu número de circo.
A Troika vai fazer de "pai severo" ou de "polícia mau", relutante em abrir os cordões à bolsa até que, no final, lá concede e dá um voto (mais um) de confiança ao governo.
O governo, protagonizado pelo irrevogável Portas, dará ares de "durão" (sem relação com o patife que preside à Comissão Europeia) e sairá das negociações com uma "vitória", porque conseguiu que a Troika lá desse o dinheirinho.
É uma farsa grotesca, já que o resultado é combinado à partida e os players, governo e Troika, sabem de antemão que apenas desempenham um insignificante papel de peões. Tudo já está previamente decidido. A Troika entrega o dinheiro a Portugal e este paga aos credores: É esta e não outra a natureza e finalidade do resgate.
O irrevogável Portas em pose de Estado.
A farsa em torno das metas do défice para 2014 é ainda mais patética. É que:
1 - O governo ultrapassou sempre as metas do défice originalmente previstas;
2 - A Troika reviu sistematicamente em alta as metas;
3 - O governo violou sistematicamente as metas já revistas;
4 - Nunca houve sanções da Troika ao governo(já não dou o dinheirinho).
Na verdade, no documento original, as metas do défice eram as seguintes:
2011 - 5,9%
2012 - 4,5%
2013 - 3,0%
Quais foram os resultados alcançados pelo governo?
Em 2011, o défice foi "martelado" com uma receita extraordinária, a transferência do fundo de pensões da Banca, sem a qual o resultado teria sido de 7,7%, ou seja, 1,8% acima da meta.
Em 2012, o défice foi novamente "martelado" com receitas extraordinárias provenientes das privatizações. Ainda assim, ficou em 6,6%, ou seja, 2,1% acima da meta. Já na recta final do ano, a Troika flexibilizou a meta para 5,4% (mais 0,9% de "bónus"). Não obstante, o governo falhou miseravelmente e ficou 1,2% acima da meta já flexibilizada.
Para 2013, a meta era de 3%. Dizemos "era" porque, no final do primeiro semestre, vamos com um défice de 7%.
Inútil, portanto, pretender que iremos ter negociações duras com a Troika a este respeito. Será um dejá vu outra vez, perdoem-me a redundância. O governo irá, como sempre, falhar redondamente as metas iniciais, falhar redondamente as metas "flexibilizadas", a Troika irá aumentando as metas de flexibilização em flexibilização e, no fim, o governo voltará a falhar, sem que nada lhe aconteça.
Enquanto esta farsa decorre, cem mil portugueses emigram por ano, um milhão está sem trabalho e outro milhão vive indignamente trabalhando à jorna como há cem anos, à tarefa ou ao mês, a recibo verde ou na absoluta clandestinidade.
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