Escrito antes do meio dia de hoje.
A liderança do PS é fraca. Os percursos de António José Seguro e de
Pedro Passos Coelho são perturbadoramente similares, o que faz antever o pior, caso
o primeiro venha a assumir responsabilidades governativas. E, ao contrário do
PSD, no PS há gente atenta, à espreita e à espera do momento oportuno para
avançar.
Ao aceitar negociar, Seguro,
dando-se ares de “homem de Estado”, mais não fez do que cair numa esparrela
óbvia e pouco inteligente montada por Cavaco. Sem necessidade, tomou a
responsabilidade de tentar resolver problemas que não eram seus, colocou-se
voluntariamente sob a asa do Presidente e no mesmo saco com o governo, seja
qual for o desfecho do “compromisso”.
Se houver fumo branco nas negociações, e a menos que
Seguro consiga uma imprevisível e estrondosa vitória, como seja a anulação do
corte dos 4.700 milhões, a anulação do escandaloso processo de despedimento
colectivo na Função Pública a coberto da hipócrita “mobilidade especial”, a
anulação no corte das pensões, a baixa de impostos, etc., o PS deitará para o
lixo dois anos de oposição. Milhões de portugueses, quer os que já estariam
dispostos a votar PS, quer os traídos pelo PSD, não saberão em quem votar nas
próximas eleições. Provavelmente, a abstenção será muito superior a 50% e o
epíteto “são todos iguais” será – e com justiça – lançado sobre todos os
partidos do “arco”, dando assim razão aos que dizem não haver necessidade de
eleições. As despesas da oposição serão entregues por inteiro ao PCP e ao BE,
cuja representação parlamentar irá crescer, quer pelo aumento de votos, quer
pela abstenção. E Seguro será arredado da chefia do PS, já que os seus
adversários se perfilam para lhe retirar o poder, sendo uma capitulação neste
“compromisso”, mais do que justa causa para o seu despedimento, apesar das
votações “albanesas” do último congresso.
Se não houver acordo (ainda assim, o mais provável dos cenários),
Seguro será acusado de ser o responsável pelo fracasso, porque impôs condições
“impossíveis” face ao regime de protectorado, os compromissos com os credores, etc.,
isto é, o costumeiro chorrilho de asneiras e mentiras tão caras à direita
e aos seus comentadores. É uma “loose-loose situation”.
Isto só acontece porque a liderança
fraca e mole de Seguro configura-se como uma mera alternância e não como
alternativa. Nada na sua acção ou no seu discurso é novo ou diferente. Seguro
não cativa, não empolga, não entusiasma, não divide as águas, não apresenta uma
visão e estratégia para o futuro, não dá esperança, não convence. E a direita
sendo má, sabe que o PS não está melhor. Fosse outro, o líder, e já teríamos
eleições antecipadas há muito tempo.
DUAS PROPOSTAS DE COMUNICADO DO PS APÓS A
MENSAGEM DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROPOSTA UM
1- O Partido Socialista escutou atentamente a
mensagem de sua excelência, o Presidente da República. Nela constata que:
a) Não é mencionado o facto de que a crise
política que ora vivemos ter sido despoletada pela demissão do Ministro Vítor
Gaspar e a sua carta, na qual confessa o rotundo fracasso da política seguida
pelo governo;
b) Que a continuação desta crise foi motivada
pela nomeação da nova ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque – nomeada
para prosseguir, note-se, a política confessamente fracassada de Vítor Gaspar – o que levou à
apresentação do pedido de demissão do ministro Paulo Portas;
c) Que, posteriormente, houve um entendimento
entre os partidos que sustentam a coligação e que detêm maioria parlamentar na
Assembleia da República, no sentido de haver uma remodelação e a consequente
continuação em funções do governo.
2- Na mensagem do senhor Presidente, é
formulado um convite ao Partido Socialista, no sentido de este encetar
negociações com os dois partidos da coligação ainda no poder, com vista à
obtenção de um “compromisso de salvação nacional”.
3- Do ponto de vista do PS, quem colocou o
país na posição de necessitar de ser salvo foi a direita – O PSD e o CDS – e
não o PS. Com efeito:
a) Não foi o PS que derrubou o anterior
governo, precipitando o país para o resgate e para as mãos da Troika;
b) Não foi o PS quem, durante os últimos dois
anos, prosseguiu uma política cega “para além da Troika” que teve como consequências os desastres financeiro, económico e social em que hoje o país se encontra;
c) Não foi o PS que inviabilizou qualquer hipótese de compromisso durante os últimos dois anos, apesar da
disponibilidade que este sempre demonstrou.
4- O país tem quer salvo, não por meio
de um “compromisso” negociado com quem colocou Portugal em estado de
calamidade, mas sim pela acção de um novo governo, legítimo, saído de eleições,
nas quais o povo português possa expressar livremente a sua escolha.
5- Foi este mesmo entendimento que foi expressado ao senhor
Presidente da República.
6- Porém, o senhor Presidente entendeu decidir
de modo diferente, não dissolvendo a Assembleia da República e não convocando
eleições antecipadas. Respeitamos a decisão, mas não podemos concordar com ela.
7- Mantendo-se o actual governo em funções, cabe
a este e só a este a responsabilidade de tirar o país do estado de calamidade
em que o colocou.
8- O Partido Socialista nada tem a
negociar com a direita, pelo que declina o convite publicamente formulado pelo
senhor Presidente da República no seu comunicado.
Lisboa, 10 de Julho de 2013
PROPOSTA DOIS
Querem um toalhete? Limpem as mãos à
parede!
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