DO
ESTADO DAS COISAS
DA VERDADE
E DA MENTIRA SOBRE O ESTADO EM QUE ESTAMOS E O QUE FAZER PARA SAIR DO IMPASSE
EM QUE VIVEMOS
OU
COMO TORNAR
PORTUGAL EM UM DOS MELHORES PAÍSES DO MUNDO PARA SE VIVER
Por:
Camilo
Castelo Negro,
Cidadão
irritado
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
UM GOVERNO DE MENTIRA, UMA MENTIRA DE GOVERNO
CAPÍTULO 2
A RECESSÃO: E AGORA?
CAPÍTULO 3
A CULPA DA CRISE: CRISE DA DEMOCRACIA E CRISE DO CAPITALISMO.
CAPÍTULO 4
AS SOLUÇÕES
CAPÍTULO 5
AS OMELETES E OS OVOS
CAPÍTULO 6
REFORMA DO ESTADO
CAPÍTULO 7
DA EUROPA
ADVERTÊNCIA
Resolvi
escrever este papel porque, no meu íntimo, estava a ser insuportável guardar
apenas para mim as preocupações acerca do grave momento que o nosso país vive,
bem como as reflexões que tenho vindo a fazer sobre os problemas e as soluções
para sairmos do imbróglio em que estamos metidos. Recuso-me, também a não ter
esperança; o que distingue o ser humano dos outros animais é, entre outras, a
capacidade de perspectivar o futuro. E o futuro não é, não pode ser, o negro e
o vazio que as cabeças falantes teimam em nos propor.
Cercado de tantas
mentiras e inculcações, espanto-me com o facto de, apesar de vivermos numa
época farta em informação, paradoxalmente, ser tão escasso o conhecimento e tão
fácil vender mentiras ao preço de verdades. Indigna-me, também, que tantos
sejam tão lúcidos a esmiuçar os problemas, mas tão poucos os que avançam
soluções.
Este é, pois, o meu
modestíssimo e inútil contributo. Não é nem pretende ser um ensaio ou uma tese,
posto que dele está ausente toda a cientificidade necessária para tal. Escusado
é, portanto, procurar por citações, fontes, quadros ou bibliografia. Procurei,
no entanto ser sempre fiel à verdade e não omiti ou distorci nenhum facto ou
realidade.
Barreiro, Páscoa de
2013
INTRODUÇÃO
Muitos de nós,
portugueses, olhamos para o futuro com apreensão e, pela primeira vez na vida,
sem vislumbrar qualquer horizonte. A uma hora sombria, segue-se outra, e outra
e outra. Contra toda a lógica e as lições da História, sentimo-nos metidos num
poço sem fundo, num túnel sem saída, numa noite escura à qual nunca há-de
suceder a madrugada, num inverno perpétuo sem sinal de despontar a primavera.
Há, pois, que fazer uma
reflexão e perguntar-mo-nos de onde viémos e onde estamos. As respostas a estas
perguntas fornecerão as respostas às perguntas que queremos ver respondidas:
Para onde vamos e qual é o caminho.
CAPÍTULO 1
UM GOVERNO DE MENTIRA, UMA MENTIRA DE GOVERNO
Começemos, então, pelo
exacto ponto em que nos encontramos: Um governo sequestrado pelo seu próprio
povo, que não consegue sair à rua sem escolta, um governo que vive num país
imaginário que está a “ajustar”, feito de números, ratios, tabelas,
percentagens e equações e não de pessoas de carne o osso, e um povo que grita
para um governo que não o quer escutar. Mas este governo não chegou ao poder
por meio de um golpe palaciano; ganhou as eleições. Como pôde isto acontecer?
As mentiras
O actual governo
alcançou o poder cavalgando em quatro mentiras.
Primeira mentira: A
culpa de todos os males do mundo, desde que Adão mordeu o fruto proibido até
agora, é do odioso governo que nos precedeu e do seu demoníaco primeiro
ministro.
Esta mentira baseia-se,
não no julgamento político do anterior governo, mas no simples facto de ter
sido esse o governo que precedeu o actual. Fossem outros os protagonistas, e
outros seriam os culpados. Esta mentira é fácil de vender, na medida em que
personifica o mal e a culpa numa pessoa e grupo de pessoas facilmente odiável e
dificilmente defensável e canaliza de modo simplório toda a frustração e raiva
para um só ponto de confluência. Lembram-se do Iraque?
Esta tese alarga-se
logo depois a “todos os governos”, a “todos os políticos”, a “todos os
partidos”, aos “últimos 38 anos”, para chegar, enfim, ao seu destino: O 25 de
Abril, a democracia, a liberdade, o estado de direito democrático. A conclusão
que esta mentira visa alcançar é de um revanchismo e cabotinismo absolutos e
expressa bem os insondáveis objectivos da actual liderança pseudo-liberal que
nos (des)governa. No tempo da ditadura é que era bom; cada um sabia qual era o
seu lugar, ninguém esperava alcançar fosse o que fosse da vida porque quem
nascia rico, morreria rico e quem nascesse pobre, haveria de morrer pobre (mas
honrado e limpinho) e quem superiormente nos governava, fazia o sacrifício de
nos governar, contra a nossa vontade, é certo, mas no nosso interesse (sem que
o soubéssemos), qual o bom pai de família que castiga o filho rebelde, quando
necessário, para seu próprio bem. Por isso, nem a democracia nem a liberdade
faziam falta e, pelo contrário, eram perigosas e subversivas, e o melhor era
quem ninguém se “metesse em política”.
O propósito desta
mentira é fazer “terra queimada” do passado democrático e iniciar uma “nova
era” de governação que rompe com o passado desastroso e refunda o país, à
imagem do “Estado novo”, o qual era novo, justamente porque rompeu com a
República e a democracia republicana.
Com efeito, para a “elite” iluminada que ocupa agora o poder, é
necessário passar uma esponja na democracia e na liberdade e em todos os
direitos, liberdades e garantias alcançadas e no facto indesmentível de termos,
no período de uma geração, passado de
uma sociedade arcaica, pobre, parola e provinciana para uma sociedade moderna,
aberta, complexa e, sim, rica, muito embora com grande iniquidade na
distribuição dessa riqueza.
Segunda mentira: A
crise internacional não existe, apenas o mau governo que nos precedeu é
responsável pelos males que nos afectam.
Esta mentira entronca
na anterior e visa ocultar a realidade global a que o nosso país está exposto,
de modo a servir uma explicação simplista do que é um quadro complexo: Por um
lado, somos uma democracia que se insere plenamente na comunidade internacional; integramos o maior bloco económico do mundo,
a União Europeia e, no seu seio, o Euro; o nosso mercado é aberto e está, por
conseguinte, exposto às oscilações dos mercados mundiais. Por outro, vivemos numa
economia globalizada em que a Europa, mercê da sua fraqueza política, não
desempenha um papel à altura da sua importância económica, assistimos à
emergência de países como a China, a Índia, o Brasil e outras economias do sul
e do oriente, ao passo que o Japão ou os Estados Unidos, para já não falar na
Europa, definham e perdem relevância. Finalmente, a dissolução dos blocos
político-militares dissolveu também o “status quo” dos equilíbrios globais.
Dantes, sabíamos quem eram os “nossos” e quem eram os “deles” e sabíamos o que
esperar de uns e de outros, com todas as perversidades que esse equilíbrio
acarretava: Hoje, exércitos multinacionais combatem sem bandeira nem declaração
de guerra(Al Quaeda) e os verdadeiros detentores do poder económico são
organizações internacionais sem legitimidade nem responsabilização democráticas
(FMI, BCE, Banco Mundial, Organização do Comércio Livre e outras) ou empresas
privadas de dimensão e influência globais (com o Banco Goldman Sachs à cabeça
como exemplo elucidativo), sendo certo que entre estas organizações e empresas
há uma grotesca “dança das cadeiras” a que gostam de brincar os seus
administradores, ocupando cargos ora numas, ora noutras. Há, pois, que esconder
esta realidade e oferecer explicações simplistas e simplórias para conformar o
povo.
Terceira mentira: O
país está em estado de necessidade porque o anterior governo era gastador e
fazia investimentos delirantes.
O remédio é óbvio:
Basta fazer uma governação serena, ponderada, parcimoniosa e prudente, e tudo
voltará a entrar nos eixos. Bastará cortar nas “gorduras do Estado”, e as
contas públicas serão metidas na ordem. Assim, há que eleger um conjunto de
idiotas úteis e indfensaveis a quem se possam atribuir as gorduras e o
despesismo que eram apanágio do anterior governo: PPP´s (infraestruturas
viárias e de saúde, não são igrejas barrocas ou baixelas de prata, não obstante
toda a crítica legítima que se possa fazer à sua gestão), fundações (a maior
parte das quais não recebe um cêntimo do Estado, e as que recebem, têm estatuto
de utilidade pública, isto é, a sua missão substitui-se à do Estado), “gastos
com políticos” (escondendo que o conjunto do orçamento de despesas do Governo
(60 M€) AR (110 M€) e PR (15M€) não chega a 0.4% da despesa pública do
Orçamento de Estado(52.000M€), etc.
Porque estes bodes
expiatórios não são suficientes, arranjam-se ainda outros e, com a colaboração
voluntária ou inconsciente de certa comunicação social rastejante, faz-se apelo aos sentimentos mais baixos (que
também os temos) e desportos nacionais favoritos dos portugueses: A inveja e a
perfídia. Olhando para cima, lança-se o anátema sobre os salários “obscenos” e as
pensões “de luxo”, sendo certo que basta que alguém ganhe um euro a mais do que
nós para cair nestas classificações, esquecendo-se o trabalho “obsceno” e os
descontos “de luxo” que essas pessoas tiveram
e fizeram para alcançar esses salários e pensões. Olhando para baixo, há sempre
alguém inferior a nós na cadeia alimentar e a quem podemos espezinhar no ciclo
de frustração e expiação em que vivemos, pelo que devem ser cortados os
subsídios e prestações sociais à ralé, isto é, aos pretos, ciganos,
desempregados (mandriões que não querem aceitar empregos e nem sequer os
procuram), imigrantes e outros meliantes. Faltam nesta lista os judeus, mas
esses já foram queimados na fogueira pelos nossos egrégios avós.
Quarta mentira: Não há
alternativa.
Esta mentira decorre
das anteriores e parte de um pressuposto óbvio: Durante anos, isto é, desde o
25 de Abril, andámos a viver acima das nossas possibilidades e a gastar o que
não tínhamos. Agora, temos que mudar de vida. A culpa da ilusão em que vivemos
é, pois, e uma vez mais, da democracia, da liberdade, em suma, da quimera de
pretender uma vida melhor e um país mais justo e mais moderno. Pura ilusão. Deveremos
retornar à pobreza ascética, à humildade virtuosa e viver alegremente com o
pouco que temos, bendizendo a nossa situação que, não sendo boa, é bem melhor
que a de outros, ainda mais pobrezinhos que nós, esquecidos de Deus, dando
graças ao governo, qual Salazar que nos salvou da guerra, ainda que não nos
tenha podido salvar da fome.
São três, os objectivos
desta mentira. Em primeiro lugar, apresentar, mais uma vez com uma explicação
simplória, a crise e a sua perpetuação como um facto consumado e inevitável,
evitando deste modo a discussão séria e consequente sobre a sua origem e os
seus protagonistas. Em segundo, esvaziar as alternativas às actuais políticas
de austeridade e recessão que visam, em última análise, a destruição da
economia e da sociedade tal como a conhecemos, de modo a abrir caminho à
“refundação” do novo “Estado Novo”. Em terceiro, aproveitar a crise para
destruir o Estado de Direito democrático e social, tal como o conhecemos, e
substití-lo por um Estado mínimo, em que, a coberto da “liberdade de escolha” e
da “iniciativa privada”, por um lado, e da falta de recursos, por outro (não há
dinheiro, não se faz, não há, paciência)se esvazia o Estado Social reduzindo-o
a uma função assistencial (o estado caridoso, o estado que ajuda os “pobrezinhos”,
com uma diminuição drástica nos gastos públicos) e se descarta a capacidade
interventiva do Estado, seja porque não há capital disponível para realizar
investimentos públicos (o dinheiro deve estar à disposição da “iniciativa
privada”, porque só os privados têm “vocação” para investir) seja porque todo o
tecido empresarial público é privatizado (mais uma vez, o estado, ao contrário
dos privados, não tem “vocação” para gerir empresas e prestar serviços). Porém,
logo os privados constatam que os serviços públicos, uma vez na mão deles,
afinal não dão o lucro que se esperaria (onde estão os administradores
inteligentes?) e se o Estado quer que estes serviços sejam prestados
(transportes, educação, saúde, assistência social, etc.) terá que pagar, e bem
caro, aos privados para que estes façam o favor de prestá-los. Não há dinheiro
para o Estado desempenhar as funções que lhe estão constitucionalmente
atribuídas, mas depois o dinheiro aparece para pagar aos concessionários
privados, pois o estado é uma “pessoa de bem” e deve honrar os seus
compromissos. Os recursos são, deste modo transferidos da esfera pública para a
privada.
Se o caminho que nos
levou à perdição foi “fácil”, a cura para os males do mundo será “difícil”,
porém frutuosa. Os portugueses, coitadinhos, queixam-se, e as suas queixinhas
até são são legítimas, porque não conseguem, lá de baixo onde estão, vislumbrar
o futuro radioso que a “elite”, cá em cima, lhes prepara. Os portugueses não
entendem, coitadinhos, que é preciso empobrecer, primeiro, para enriquecer (não
todos, só alguns), depois. É preciso varrer a velha economia feita de pequenas
empresas e acabar com a detestável “classe média”, constituída por gente pouco
recomendável que tem o hábito nefasto de querer “subir na vida”, “pensar” e
enviar os filhos para a Universidade (e que ainda por cima têm o topete de
passar à frente, em mérito, dos filhos da “elite”) para depois surgir, em
geração espontânea, a nova economia, com as suas grandes empresas pertencentes
àquelas dez ou doze famílias respeitáveis que todos nós sabemos quem são,
administradas pelos membros das “elites”, os tais que estudaram (ou, pelo
menos foram matriculados) naquelas duas ou três Universidades (privadas, claro
está) que produzem os comentadores papagaios (ou serão moscas?) que
quotidianamente nos entram em casa pela televisão e poluem as nossas salas de
estar com a repetição ad nausea
destas mentiras.
Partilhei no Facebook , porque concordo com a análise.
ResponderEliminarSugiro que faça um quadro de seguidores como eu tenho, para que assim quem o lê possa linkar o blog.
Abraço.