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cretino In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-09-10].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-aao/cretino>.
Que há tipos cretinos, todos sabemos. Que parecem abundar hoje mais na direita do que na esquerda, falta apenas um estudo científico que o comprove. Quem tem dúvidas, consulte aleatoriamente afirmações de dirigentes do Partido Republicano ou daquela "coisa" que é o Tea Party dos Estados Unidos; há de tudo para todos os gostos.
Na Europa em geral e em Portugal em particular, a direita era tradicionalmente representada por pessoas bem formadas, educadas nos valores do humanismo cristão, cultas e conhecedoras. Pessoas tolerantes, racionais e inteligentes. Dois exemplos, entre muitos: Winston Churchill ou Adriano Moreira.
Porém, parece ter ocorrido uma mutação genética nos teóricos da direita europeia e portuguesa. Estes são hoje ocos, superficiais, incultos, dissimulados, manipuladores. E mentirosos, muito mentirosos. Para se parecerem com os seus congéneres americanos, apenas falta a adesão às tretas anti-científicas e pré-modernas das teorias creacionistas e revelarem na sua dimensão religiosa um fanatismo fascista que, felizmente, ainda anda não chegou cá.
Tudo isto a propósito de um texto nojento de um cretino da direita.
Para que ninguém possa dizer que o texto foi truncado, deixo aqui o link.
E aqui, o texto.
Nos anos 1960, Portugal era um país pacato e trabalhador, poupado
e prudente, que se sacrificava generosamente, labutando dia e noite para
cumprir os deveres. Frequentemente emigrava e procurava vida melhor noutras
terras. E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou americanos, gostavam
dele, por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Havia quem abusasse da
sua dedicação, e ele sabia-o. Sentia-se enganado, mas apesar disso trabalhava
com afinco.
Um dia, Portugal recebeu uma boa notícia da terra. Aqueles que
abusavam dele tinham sido afastados. A opressão acabara e ele podia regressar,
para viver rico e feliz na sua própria casa. E Portugal voltou, porque já não
seria preciso ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Era um país
democrático, livre, independente. A nova geração iria viver como os patrões
franceses e alemães. E Portugal gastou. Criou autarquias e dinamização
cultural, comprou frigoríficos e televisões, fez planeamento económico, exigiu
escolas e hospitais.
Só que a euforia da liberdade política criou um problema de
endividamento. Quatro anos após regressar, Portugal estava falido, com o FMI à
porta, exigindo pagamento. O choque foi grande. Portugal compreendeu que,
afinal, não era como os patrões europeus. Estava tão desgraçado como os
mexicanos, os argentinos, os gregos e outros países da dívida. O buraco era
enorme. Não havia solução.
Foi então que Portugal se lembrou de seus pais, pacatos e
trabalhadores, poupados e prudentes. E perante a austeridade do FMI, Portugal
esforçou-se, apertou o cinto, labutou, amealhou e pagou as dívidas. Os países
credores não acreditavam que fosse possível a recuperação, enquanto os
dirigentes e políticos bramavam contra a nova ditadura do dinheiro e exigiam
direitos. Mas Portugal não quis ouvir e, uns anos depois, tinha a casa em
ordem. Foi espantoso!
Os europeus, admirados, gostaram de Portugal, por ser pacato e
trabalhador, poupado e prudente. Quando o viram de novo com as contas certas e
a vida organizada, aumentaram-lhe o ordenado, ofereceram-lhe sociedade.
Portugal entrou na CEE. Jantou com os antigos patrões, de igual para igual.
Passou a ser europeu.
Até que um dia Portugal recebeu uma boa notícia. Os seus esforços
tinham sido recompensados e ele fora admitido na moeda única. A partir de agora
iria partilhar não apenas instituições e directivas, mas taxas de juro e
crédito. Era finalmente um parceiro a sério, considerado mesmo igual. Pertencia
ao clube, não apenas político, mas financeiro. Podia viver rico e feliz na sua
terra.
E Portugal achou que já não seria preciso ser pacato e
trabalhador, poupado e prudente. A nova geração iria viver como os parceiros
franceses e alemães porque, graças ao euro, pedia dinheiro emprestado nos
mesmos bancos e aos mesmos preços. Casaria até a filha com o filho deles. Era
um país desenvolvido, capitalista, globalizado. E Portugal gastou. Construiu
auto-estradas, fez parques industriais, exigiu computadores para todos os
alunos e novas carreiras médicas.
Só que a euforia da liberdade financeira criou um problema de
endividamento. Dez anos depois de entrar no euro, Portugal estava falido, com a
troika à porta, exigindo pagamento. O choque foi grande. Portugal compreendeu
que, afinal, não era como os países ricos. Estava tão desgraçado como
irlandeses, gregos, argentinos e outros países da dívida. O buraco era enorme.
Não havia solução.
Então Portugal lembrou-se de seus pais e avós, pacatos e
trabalhadores, poupados e prudentes. A nova geração voltou a velhos hábitos.
Agora, perante a austeridade da troika, Portugal esforça-se, aperta o cinto,
labuta, poupa e paga as dívidas. Os credores não acreditam que seja possível a
recuperação, enquanto os dirigentes bramam contra a ditadura do dinheiro e
exigem direitos. Mas Portugal não quer ouvir. Labuta, amealha, emigra e procura
vida melhor noutras terras. E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou
americanos, gostam dele por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente.
Parece um filme!
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